segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Descobrindo-se no Ser


Muito tempo desde a última vez por aqui! Os últimos anos têm me atravessado a alma, provocando a reconfiguração do meu modo de ser e sentir. Num curto período de tempo me vi outro, bem diferente daquele. Os acontecimentos, as experiências, minhas escolhas, me trouxeram ao estado que me encontro agora, de descobertas, mais ciente de mim e do mundo no qual estou navegando. Há ainda muito a navegar... Não me recordo de uma travessia como esta em minha vida. Provavelmente lá na primeira infância algo do tipo tenha acontecido, porém algumas lembranças ainda são embaçadas. A impressão é que eu esteja em processo intensivo de transformação, minha comigo mesmo. E por ser intensivo, muitas vezes acaba sendo doloroso. Coisas que antes me movia se enfraqueceram em sentido, perderam relevância. No entanto, outras carregadas em significados brotaram e brotam a cada momento. Hoje, acompanhado de alguém que me auxilia com amor neste processo, descubro o como usufruir a vida nos pormenores dos instantes vividos. Para isso, respiro mais e falo menos. Meu ser então se modifica extraindo de si aquilo que não mais lhe serve. Dizer algo além disso é querer teorizar, enquadrar-me para algo. E isso não quero ter de fazê-lo agora! Por ora sigo buscando a verdade em mim, aquela que queima e me mostra como é realmente estar vivo.

Djavan Antério

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Camaleão na Paraíba

A capoeira paraibana esteve em festa, melhor dizendo, esteve em vadiagem...

Recebemos neste fim de semana um grande mestre, um mestre que representa a capoeira em sua mais nobre causa. Recebemos, com todo o respeito, Mestre (mandingueiro) Camaleão.


Tudo aconteceu muito rápido! Soubemos que Camaleão estaria vindo ao Brasil (já que hoje o mestre contribui para a expansão da nossa capoeira em terras antigas da Europa) e existia a forte possibilidade da vadiação chegar até aqui, na terra de Jackson do Pandeiro.


A conexão rolou naturalmente, sem tanto floreio. Professor Sabão foi lá, Mestre Camaleão chegou por aqui. E aí o que tivemos foi muita capoeira. Difícil querer expressar em palavras todo o contentamento emergido da ginga desse grande mestre, que na beleza da humildade, tornar-se gingante dentro e fora da roda.

Na sexta Camaleão foi recebido do jeito que gosta, na confluência dos movimentos e na interação dos corpos. Joga pra lá que eu jogo pra cá. Vai daí que eu vou daqui. E assim a vadiagem correu solta.



Camaleão trouxe mais dendê pra terra de “cabra macho”, trouxe fundamentos críticos e reflexivos, fazendo valer a máxima de que a capoeira necessita da força conjunta, do todo ao invés do uno. “Vocês são a nova geração”, disse ele ao sustentar que o bom deve ser fomentado; e o ruim, por sua vez, deve ser enterrado.

*Mestres: Camaleão, Gege, Cobrinha Mansa, Silas e Peixinho

Sábado foi dia de oficinas. Num espaço massa, cedido pelo Departamento de Educação Física da Universidade Federal da Paraíba (DEF/UFPB), pela manhã, com o Mestre Camaleão, rolou o trava daqui, o joga pra lá. Fecha, abre, solta o pé, mas não deixa bater. Cada lição era recebida com atenção e apreço. Primeiro por vir de um mestre, mas, sobretudo, por ser algo compartilhado com amor, amor à arte de “capoeirar”. E isso, camará, não há vídeo no mundo que ofereça.


A tarde foi dedicada ao Coco, dança nossa, nordestina, rica no balanço, forte na cultura.  Numa brincadeira onde a mistura de Coco e Capoeira deu em “Cocoeira”, tivemos a contribuição significativa do contra-mestre Café, “cabra da peste” daqui vizinho (Natal/RN), que bate o pé, quebra o corpo e queima na embolada. Valeu irmão pela força, pela soma. A conexão foi feita, vamos agora tratar de engrossar essa caldo!


Domingo o evento se estendeu até o alto da serra, chegando a terra do maior São João do mundo, Campina Grande. E como foi lindo! Num simples lançar de ideia, a oficina se replicou, abarcando capoeiristas de diferentes localidades do interior paraibano. Aproveitamos para agradecer a Associação Cultural de Capoeira Badauê, na pessoa do Mestre Sabiá, sábio, sereno e acolhedor. Também ao contra-mestre Tibério, “caba bom”, que não se fechou à emoção de estar com Camaleão, ídolo no jogo e na vida. Foi emocionante, meus irmãos, vê-los em oração: “Mandei caia meu sobrado, mandei, mandei, mandeeeeeei...”


Voltamos a capital paraibana para a roda de despedida. E quanta sabedoria junta! Tivemos em sinergia mestres, contra-mestres, professores, monitores, alunos. Destaco: Mestre Lima e o grupo Angola Mandinga; Mestre Naldinho e o grupo Angola Comunidade; Mestre Robson e o grupo Berimbau Viola. Foi especial ver a capoeira paraibana mostrando àquele que estava de passagem, que aqui tem capoeira e, como já dizia nosso João Pequeno, é da boa!

Valeu aos irmãos, contra-mestres, Barata, Marivan, Tina, Coquinho, capoeiristas de valor e que sabem valorizar. Estamos juntos na força que une, que agrega. Vamos juntos erguer ao ponto alto a capoeira da Parahyba.


E assim foi a chegada de Camelão por aqui. Rápida, porém intensa. Sem estrelismo ou qualquer coisa do tipo. A capoeira agradece!

Até uma próxima mestre, vai na fé. Iê!


sexta-feira, 18 de abril de 2014

Às Vezes o Aprendizado Pode Ser Amargo


Amanheci pensando, cá comigo, em situações que às vezes passamos na vida. Falo, sobretudo, das de aprendizagens.

Seguindo do princípio de que na vida estamos em constante aprendizagem, vivendo, construindo nossa história ontológica, é preciso perceber que algumas vezes isso se dá de forma amarga, brusca, se sobrepondo ao conforto do dado momento.

Mas isso, apesar da dor, da angustia, das insistentes perguntas conduzidas pelos “e se...”, é aprendizagem. A questão é como isso será absorvido e assimilado para que, de fato, o aprendizado seja perpetuado em futuras ações. Diria até na forma de ver e enxergar o mundo. Em outras palavras, trata-se da maneira como encaramos as coisas.

Geralmente deixamo-nos levar pelo egocentrismo ainda latente e mergulhamos num bojo de lamentações sem fim. Não sei se é bem por aí... Acredito que a principal postura é manter-se sereno, firme, avaliando detalhadamente o que aconteceu (ou que está acontecendo). A partir de então, entra em cena o processo de análise, reflexão. E isso vem por meio de questionamentos simples: como? por que? e agora?

Legal é ter pessoas boas por perto, que possam imergir junto, trazendo à superfície aquilo que Skinner chama de “reforçamento positivo”. Em linhas gerais, representa nossa sensibilidade às consequências do nosso próprio comportamento. Isto é, uma consequência específica que aumenta a probabilidade futura da ação que a precedeu. (Legal isso, né?!)

Pois é, às vezes o aprendizado pode ser amargo, mas ainda assim será aprendizado. E aprender... é sempre válido!

(Djavan Antério)

terça-feira, 8 de abril de 2014

Tem uns Dias que são Especiais


tem uns dias que são especiais
não que tudo seja perfeito (não)
mas acontecem umas coisas, sabe

você consegue estar junto de vários amigos
o tempo, mesmo nublado
revela-se em brilho

é possível sentir o sol enquanto olha a lua
ver pai e filho contemplando o mar
e ainda tem o cachorro só querendo nadar

o pôr do sol (puxa!)
lança toda positividade
fluindo com calma num mergulho de até logo

e ali, bem ali (pertinho de você)
um beija flor parado
permanece também a observar


(Djavan Antério)

sábado, 1 de março de 2014

O Cafuçu Continua Lindo


A cultura (popular) vem recebendo golpes e mais golpes das (in)ações públicas, que, ao invés de fomentá-la – abrindo espaços para ocupação e investimentos específicos – faz é questão de abafa-la. Isso acontece quando se coloca, por exemplo, Aviões do Forró (com custo de sei lá quanto...) e não um grupo de Coco de Roda, um trio Pé de Serra, ou mesmo tantos outros grupos locais e regionais que continuam firmes na tentativa de manterem-se vivos nas selvas de pedra.

Não podemos confundir aquilo que leva mais gente às ruas, com a qualidade daquilo que deve ser levado como forma de entretenimento, diversão e lazer. É preciso fazer isso com responsabilidade e um mínimo de noção sócio-educativa. É possível se adequar e manter a qualidade atrelando-se, sobretudo, a alegria e a disposição do povo.

Olha o Bloco Cafuçu, por exemplo, que apesar de todas as dificuldades em tentar manter-se aberto às diferentes “alianças”, continua lindo, como um dos blocos mais divertidos do período pré-carnavalesco. Saindo da bela Praça Dom Adauto, diferencia-se pela caracterização “brega” dos seus brincantes e explora boa parte do centro histórico da capital paraybana por meio de suas ruas e ladeiras mais antigas. A trilha segue por conta das "troças", orquestras que tocam frevo, marchinha de carnaval e outras músicas típicas da rica região nordestina.

Particularmente, é a festa que mais gosto. Não lembro a vez que faltei, mas faz um bom tempo que todo ano brinco por lá, com um sorriso desdentado, aquele óculos do rei Rossi e sempre, sempre munido de disposição para a brincadeira.

Esse ano foi grandioso o evento. Não pelas atrações, mas pela ocupação deste espírito de alegria em diferentes pontos do varadouro, cada qual com suas peculiaridades. No Ponto de Cem Reis, vi famílias dançando, crianças correndo, cachorros e gatos em trégua de paz (rs). Na praça Barrão do Rio Branco, a vibe do clássico chorinho imperava, trazendo os velhos malandros e suas senhoras dançarinas pra fora das salas de tv. Enfim, toda uma gente espiritualizada em alegria.

Em alguns momentos pude perceber nos semblantes das pessoas, a satisfação em compartilhar, em “animar-se junto ao próximo”, desprendendo-se de qualquer tipo de desequilíbrio que, sem dó nem piedade, os segregam em corpo e espírito.



É, apesar dos pesares, o Cafuçu continua lindo!

(Djavan Antério)