terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Vale (Mágico) do Capão

 

Dias antes de partir rumo à Chapada, catei algumas informações sobre o lugar com amigos e conhecidos mais próximos. Não queria ver sites, blogs, relatos... Queria apenas saber de alguns lugares, algumas referências e pronto. Como disse anteriormente, era a realização de um sonho, e uma de suas principais características é que basicamente nada estava planejado. A intenção foi justamente descobrir, desbravar, mergulhar por inteiro.

Pois bem, um dos lugares que tive excelentes referências, até por ser o lugar que mais me agrada pessoalmente, foi o Vale do Capão. Mas quer saber? Superou muuuito qualquer tipo de expectativa que eu tenha ousado a fazer. Na chegada, por exemplo, fui recebido assim:


Lá no Capão, falando em natureza selvagem, tudo é belo. Cada pico mais exuberante que o outro. Recomendo (a) Fumaça, (b) Morrão e Águas Claras e (c) Rio Preto.


Mas não é exatamente isso que torna o lugar mágico. Também, mas são as pessoas que diferenciam. Todos caminham devagar, mais parecendo refletir sobre quase tudo que se passa. São pessoas alegres, com a gentileza na ponta de cada ação. A paz reina e a gentileza impera. (É uma espécie de realidade paralela!) As crianças são felizes e traduzem suas criatividades nas brincadeiras populares, na forma de se relacionar com o próximo. Descalçados, correm pelas ruas, interagindo com pessoas e animais que constantemente circulam nas praças.


Há consolidado uma educação mais livre, diria até "libertadora", que contempla as dificuldades e desafios do cotidiano. Os pequeninos pouco ouvem a palavra NÃO. Pensando nisso, me ocorre como é triste ver nas cidades, crianças excessivamente protegidas, que acabam se fechando para o mundo. Por que não permitimos que nossos filhos descubram (com suas próprias pernas) as infinitas possibilidades que a vida, já nas fases inicias, proporciona para um aprendizado espontâneo e natural?


E a movimentação cultural? Como é rica! Lá a capoeira é de Angola. O toque do berimbau conduz um jogo limpo, repleto de respeito. Os movimentos são combinados, traduzindo a paz ao invés da guerra. A dança acontece entre irmãos, prevalecendo sempre a cordialidade. Sem esforço, é possível sentir a tradição, a cultura, o amor de pessoas ricas em espiritualidade.


E falando em pessoas, no Capão conheci outras maravilhosas. Foi bom, pois logo preencheu a lacuna deixada pelas amizades de Lençóis. Leo e Mica, Gabi e Nana, Nicolas, Diêgo, Carol, Aline, Thais, Alemão (do Brasil) e seu pequeno sol Luniz, Pati e Karizia, Mari, Rodrigo, Giovani, Astral, Antônio, Renato, Martins e seu querido aprendiz Sumé, Diego (Galpão), Arthur, Ayla, Val, Deri e a doce Ananda, André e tantos outros...



Com elas fiz de tudo um pouco. E tudo, num lugar como este, é feito com a alma e coração. Daí o forte vínculo que se cria ali, naquele momento, naquele contexto. Pessoas de coração aberto, sabe?!


Rolou pastel de palmito de jaca; pizza “doce e/ou salgada” (1 do tipo doce e uma do tipo salgada. E só! Ahhh, todo dia estávamos lá – hehe); batata do Massala (Evandro, gratidão pela gentileza! Jamais esquecerei o que fez); caldo de cana com limão; beiju, completudo (sanduíche) e cuscuz com banana (aprendi!!); mel de pimenta. Vale ressaltar a tendência vegetariana do local. Para se ter uma ideia, não me lembro de ter comido carne nesses 20 dias que passei na Chapada.




Dia após dia um de nós partia. Até que chegou a minha vez! E sabe o que fiz? Levando em consideração que já havia explorado e vivenciado bem a beleza natural das redondezas, resolvi viver ainda mais a vila. 24 horas caminhando, conversando com moradores, brincando com as crianças, interagindo e, ao mesmo tempo, agradecendo.


Então parti, mas com a certeza de que levava comigo LUZ e AMOR para a realidade que me aguardava. Sim, pois, por mais que possa parecer, não resolvi ficar. Muito pelo contrário!

É fácil partir para "uma melhor". Difícil é contribuir para uma efetiva mudança onde as coisas não estão indo bem. A terra que escolhi ficar, ainda que castigada pela seca, desigualdade, intolerância, violência, descaso... merece todo meu esforço para que não se torne a "babilônia" que já se vê em tantos outros lugares.

Valeu Diamantina!


(Djavan Antério)