Ainda ontem conversava com uma amiga sobre o “caso USP”. Por consequência, acabei refletindo de maneira mais crítica sobre o assunto e resolvi postar aqui algumas considerações. Porém, antes de qualquer coisa, é pertinente lembrarmos como tudo aconteceu.
Em 27 de outubro, alunos entraram em confronto com PMs após três estudantes serem detidos com maconha dentro do campus da USP. Após o episódio, inúmeros estudantes decidiram ocupar o prédio de administração da faculdade de filosofia, letras e ciências humanas. Uma assembleia decidiu pela desocupação, porém um grupo dissidente resolveu ocupar a reitoria, invadindo-a. Depois de alguns dias, a tropa de choque, em cumprimento de ordem judicial, reintegrou a posse do prédio. Estudantes, então, foram detidos, conduzidos à delegacia e liberados após pagamento de fiança.
O que vimos é mais delicado do que parece! Primeiro, por se tratar de um embate entre ideologia e política dentro da mais conceituada instituição de ensino superior da América Latina. Em segundo, por abordar um tema tão importante para aquela sociedade que sonha em ser, de fato, democrática: a autonomia no âmbito universitário.
Pois bem, em primeiro plano, acredito que questões como esta devem ser constantemente dialogadas, discutidas, debatidas. Mantê-las sob resguardo é arriscar na explosão de uma indignação maximizada que pode ou não acontecer. Neste caso, aconteceu!
Dois fatores são pilares no fato ocorrido: a violência e a presença da PM na USP. Se, por um lado, morre-se em virtude de um latrocínio no estacionamento da USP, por exemplo, por outro, a segurança não pode ser garantida com uma intervenção despreparada e viciada como é a da nossa polícia, muito menos por aquela que não é a mais "legítima" para atuar em tal local. Agora, também querer consumir drogas livremente sob o argumento de “liberdade acadêmica” é um pouco demais. Quanto a isso, cuidado, cautela e discrição sempre funcionaram!
Tudo bem, a lei é para todos, mas repudio a maneira como as coisas acontecem nesse país. Imaginemos quão desagradável seria, depois de uma excelente aula de Fundamentos Políticos da Educação, por exemplo, ser abordado e revistado no meio da praça pública da universidade simplesmente porque se tem aparência de suspeito? Tá bom, vai, a suspeita é inerente ao processo de investigação. Mas atentemos para a abordagem, ora essa?! “Bom dia, como vai, pode nos mostrar seus documentos, por gentileza?” Quanta diferença...
Não estou defendendo a ocupação dos estudantes na reitoria e o que com ela aconteceu (danos, desobediência, sei lá mais o que...). Apenas questiono o reducionismo do fato à delinquência desenfreada, marginalizada (Formação de quadrilha é F....!). A moçada lá não agiu corretamente. Muito pelo contrário, penso que algumas posturas por parte de uma minoria comprometeu a real “mensagem” do todo. Todavia, tão errados quanto, está o Estado, que negligencia a real segurança da sociedade, a imprensa sanguessuga e aqueles esquerdistas aproveitadores.
A crescente violência urbana conclama por uma intervenção policial que minimize o medo de ir e vir. Entretanto, necessitamos mais do que fardas e cassetetes perambulando por aí. Precisamos, sim, é de mais preparo, mais adequação à contemporaneidade dos tempos. Querendo ou não, o acontecido foi e ainda está sendo vitrine para uma discussão que sempre será fundamental para a construção de um país que pleiteia ser desenvolvido.
(Djavan Antério)