sábado, 1 de março de 2014

O Cafuçu Continua Lindo


A cultura (popular) vem recebendo golpes e mais golpes das (in)ações públicas, que, ao invés de fomentá-la – abrindo espaços para ocupação e investimentos específicos – faz é questão de abafa-la. Isso acontece quando se coloca, por exemplo, Aviões do Forró (com custo de sei lá quanto...) e não um grupo de Coco de Roda, um trio Pé de Serra, ou mesmo tantos outros grupos locais e regionais que continuam firmes na tentativa de manterem-se vivos nas selvas de pedra.

Não podemos confundir aquilo que leva mais gente às ruas, com a qualidade daquilo que deve ser levado como forma de entretenimento, diversão e lazer. É preciso fazer isso com responsabilidade e um mínimo de noção sócio-educativa. É possível se adequar e manter a qualidade atrelando-se, sobretudo, a alegria e a disposição do povo.

Olha o Bloco Cafuçu, por exemplo, que apesar de todas as dificuldades em tentar manter-se aberto às diferentes “alianças”, continua lindo, como um dos blocos mais divertidos do período pré-carnavalesco. Saindo da bela Praça Dom Adauto, diferencia-se pela caracterização “brega” dos seus brincantes e explora boa parte do centro histórico da capital paraybana por meio de suas ruas e ladeiras mais antigas. A trilha segue por conta das "troças", orquestras que tocam frevo, marchinha de carnaval e outras músicas típicas da rica região nordestina.

Particularmente, é a festa que mais gosto. Não lembro a vez que faltei, mas faz um bom tempo que todo ano brinco por lá, com um sorriso desdentado, aquele óculos do rei Rossi e sempre, sempre munido de disposição para a brincadeira.

Esse ano foi grandioso o evento. Não pelas atrações, mas pela ocupação deste espírito de alegria em diferentes pontos do varadouro, cada qual com suas peculiaridades. No Ponto de Cem Reis, vi famílias dançando, crianças correndo, cachorros e gatos em trégua de paz (rs). Na praça Barrão do Rio Branco, a vibe do clássico chorinho imperava, trazendo os velhos malandros e suas senhoras dançarinas pra fora das salas de tv. Enfim, toda uma gente espiritualizada em alegria.

Em alguns momentos pude perceber nos semblantes das pessoas, a satisfação em compartilhar, em “animar-se junto ao próximo”, desprendendo-se de qualquer tipo de desequilíbrio que, sem dó nem piedade, os segregam em corpo e espírito.



É, apesar dos pesares, o Cafuçu continua lindo!

(Djavan Antério)